| Sessão 7 |
- Planeamento-
Em conversa com o Zar decidimos que parte do ensaio de hoje seria dirigido por mim. Assim sendo, pensei ao pormenor como gostaria de gerir o ensaio.

Assim sendo utilizaria, 2 instrumentos de percussão já utilizados pela orquestra, 2 sinos, 2 Hapi Drum, 2 Hapi Bells, um Wacon, um pad kontrol, campânulas, variados tipos de folhas de papel (como vegetal, alumínio ...) e um Makey Makey. Pensei ainda em levar um instrumento que reproduzi-se o sons de passarinhos mas, devido à falta de outro Makey Makey não foi impossível.
Idealizei uma estrutura para a performance musical tendo plena consciência do que queria ouvir. Para que a comunicação fosse o mais simples e silenciosa possível pensei num sistema de cartões:
Vermelho - tocar só notas vermelhas;

Verde - tocar só sinos;

Azul - tocar só notas azuis ;

Números - número de notas que devem ser tocadas;

Seta - sentido em que se toca;

Descrição:
Sabem aquela sensação de não querer fazer nada mas ir por obrigação? Hoje estou nesses dias.
A primeira parte do ensaio foi um relembrar das músicas necessárias para o concerto de Domingo. Enquanto isso eu montava o espaço tal como tinha idealizado. Mal terminou esta primeira parte, organizei as pessoas (tal como primeira imagem). O indivíduo A estava a faltar.
Comecei por pedir para que todos tirassem os sapatos porque o instrumento do makey makey não funcionaria de outra forma. Não foi uma tarefa fácil e para incentivar eu fui a primeira a descalçar-me. Já quando tudo estava organizado experimentei o makey makey. Comecei a entrar em pânico - não estava a funcionar. Ao fim de 10 minutos tudo já estava a trabalhar sem problemas. De forma individual, expliquei como funcionava cada um dos instrumentos dando mais atenção ao instrumento electrónico que idealizei para o indivíduo C - Pad kontrol. Por fim expliquei o sistema dos cartões, mas não tinha refletido sobre uma coisa muito importante que nos parece banal: metade dos participantes não sabe ler número! Optei então apenas pelo sistema das cores.
O Zar deu-me sinal para começar. Senti que mesmo tendo um esquema mental de tudo o que gostaria que acontecesse, não consegui desenvolver o ensaio com a naturalidade pretendida. Cognitivamente, apaguei tudo o que tinha planeado e fiz o que a minha intuição mandava. Comecei então a performance, mas rapidamente deixei de saber ouvir; não era capaz de entender o que era necessário naquele momento. Mesmo assim a estrutura final consistia em:
- Começar com o solo de Pad Kontrol;
- Exploração dos Hapi Drums juntando lentamente o makey makey e a percussão;
- Solo de "touch" juntando pouco a pouco todos os instrumentos;
- Terminar com um silêncio progressivo.
Com a ajuda do vídeo consegui fazer uma análise posterior onde concluí:
- O indivíduo V1 tem uma reação inesperada no início da performance que, por mais que tente, não a consigo traduzir; no decorrer da performance apresenta um sorriso que permanece fincado.
- O indivíduo F e o indivíduo J mantêm uma posição de total desinteresse pelo que estava a acontecer, no entanto realizavam as tarefas que eu lhes proponha; penso que não seja por falta de gosto, mas sim pela forma distinta de fazer música.
- O indivíduo T apresenta sempre uma expressão de concentração; está sempre atento às minhas indicações e chama a atenção dos outros para que as cumpram.
- O indivíduo D esteve sempre muito parado e não demonstrou nenhuma reação, no entanto; não fazia nada do que eu lhe pedia, mas quando a Aida se aproximava dele e lhe repetia as minhas indicações ele reproduzia-as.
- O indivíduo I1 não ficou muito contente por estar longe do seu amigo , indivíduo B, no entanto, ao levantar a bolinha verde ele tocava; não entendia quando lhe pedia que tocasse apenas uma vez.
- O indivíduo I adorou o instrumento electrónico que eu lhe levei apresentando bastante facilidade em tocá-lo, no entanto, foi necessário retirar a caneta das mãos para que parasse de tocar.
- O
indivíduo C tocou o instrumento que elaborei para ele. No
princípio teve algumas dificuldades em entender como funcionava. Mas,
posteriormente já conseguia tocar sozinho ainda que com algumas dificuldades em
controlar o volume. Não será difícil que, com mais alguns ensaios, ele consiga
tocar sem grandes problemas
- O indivíduo E não pode ficar com o Hapi; quando lhe era pedido para tocar notas vermelhas ele sorria e tocava apenas uma, se lhe pedia que continuasse, tocava mais uma nota e parava; é notório que tem algum receio em tocar por isso será melhor repensar um outro instrumento de forma a que ele se sinta mais confortável.
- O indivíduo B e o indivíduo V demonstram muito interesse pelo Padkontrol - ficaram perplexos quando começou a soar. e, apesar da espontaneidade e do interesse pela performance, passaram a maioria do tempo a rir (não consegui perceber se era pela música ou se estava relacionado com algum assunto privado).
- O indivíduo B1 estava super concentrado e atento ao que estava a acontecer; além do mais era capaz experimentar coisas no Hapi Drum sabendo parar quando não gostava; penso que este será o instrumento certo para ele visto que se sente confortável com o mesmo.
Com este ambiente, esta boa disposição e estas pessoas magnificas é fácil alegrar o dia.

Conclusões:
Da forma como geri o ensaio penso que foi um desperdício de talento colocar tanto o indivíduo B como o indivíduo V nos instrumentos de percussão; são elementos muito fortes da orquestra e normalmente ajudam na base rítmica, coisa que quase não existiu nesta performance.
Devido à tensão e ao stress causados por esta situação (que ainda me é bastante desconfortável) esqueci-me de experimentar o efeito dos sons do papel (amassar, escrever, rasgar ...).
Penso que o instrumento do makey makey utilizado neste ensaio tem que ser repensado e explorado de outra forma. Ainda não entendi muito bem o porquê, mas não resultou como esperava.
É complicado comunicar-lhes e transmitir-lhes de forma a que entendam o que pretendo. Coisas que para mim são claras e simples para eles são imperceptíveis. É necessário fazer alguns ensaio dedicados a instrumentos em concreto para que entendam exatamente o que é pretendido (mas não há tempo para isso).
Concelhos do Zar:
"Com toda a tensão de não deixar ninguém de fora esqueci-me de explorar mais individualmente a sonoridade de cada instrumento."
Concordo plenamente com esta apreciação, mas, muitas vezes não conseguia que o instrumento x fizesse silêncio, como é o caso do Padkontrol o que me impossibilitava de fazer momentos solistas. Posteriormente, pedi ao Zar para que coordenasse a orquestra (só tenho a aprender com a sua experiência) e percebi que lhe era difícil gerir a distinta panóplia de instrumentos sem saber em concreto que sons reproduziam. No entanto também senti que alguns dos gestos utilizados não eram entendidos por todos.
"As placas coloridas que dão informação devem ser maiores porque, por experiência própria ninguém está com a concentração necessária, até mesmo os profissionais da música".
Nota: No fim do ensaio, uma estudante de jornalismo de Coimbra interessada no projeto da orquestra criativa fez uma entrevista ao Rocco e ao Zar e pediu-me para que eu participasse na mesma, com o intuito de entender melhor o meu projeto e também os meus objetivos. Pensei que seria interessante, em vez de fazer uma nova entrevista para o conteúdo da minha tese utilizar a sua (seria benéfico para mim e para ela).